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03/07/2008

As Viagens de Sinbad O Marinheiro


Embora talvez não tivesse saído de sua casa, ou nem sequer existisse, Sinbad o Marinheiro é o mais célebre dos viajantes - é mais celebre que Cabral, Cristóvão Colombo, Fernão de Magalhães, Vasco da Gama, mais que os descobridores dos pólos e os escaladores do Himalaia. Suas viagens nas Mil e uma noites fazem a delícia de crianças e adultos. Ele mesmo as conta. Começa assim: "Deveis saber que meu pai era um grande mercador. Dava generosamente aos necessitados e, quando morreu, legou-me uma fortuna considerável em espécie, terras e aldeias. "Comecei logo a gastar com imoderação, pensando que meus bens eram inesgotáveis, até que, um dia, acordei um homem pobre. Lembrei-me então das palavras sábias de meu pai: `O túmulo é mais confortável que a pobreza.' "Preferindo a aventura à mendicância, como diz o provérbio , vendi o pouco que me restava, conseguindo juntar assim 3 mil dracmas, comprei com esta soma mercadorias variadas, entrei num navio com outros mercadores e fui de terra em terra e de ilha em ilha, vendendo e comprando, tentando assim recuperar minha fortuna." Não sabia Sinbad o Marinheiro o que o esperava ao iniciar essa aventura. Fez ao todo sete viagens, cada uma delas mais cheia de episódios extraordinários que as outras. As duas viagens mais repletas de maravilhas são a terceira e a quarta, que damos adiante na íntegra. Mas há também acontecimentos que desatam a imaginação em três outras. Ei-los: "Um dia," conta Sinbad em sua primeira viagem, "após navegarmos semanas sem avistar terra, chegamos a uma ilha verdejante que. parecia o Jardim do Éden. O capitão mandou lançar a âncora e deixou-nos desembarcar. "Fomos todos à terra, levando mantimentos e utensílios de cozinha. Alguns acenderam fogo e começaram a preparar com ida e lavar roupa. Outros satisfaziam-se, como eu próprio, em passear naquele paraíso terrestre. "Estávamos assim absorvidos em nossas tarefas e prazeres quando, de repente, a ilha estremeceu com tamanha violência que fomos jogados ao chão. Enquanto permanecíamos deitados, tontos de espanto, vimos o capitão chamar-nos com gestos desesperados e voz angustiante: `Salvai-vos, passageiros! Largai tudo e vinde depressa a bordo! Isto não é uma ilha. É uma baleia gigante! Vive neste mar há gerações, e as árvores desceram na areia do mar amontoada no seu lombo. Vós a despertastes com vossas fogueiras. Agora está se movendo. Fugi antes que ela mergulhe no mar e vos afogue. Apressai-vos! O navio está se afastando!' "Os passageiros abandonaram roupa, mantimentos e utensílios e correram para o navio. Alguns o alcançaram. Outros ficaram em cima da baleia e morreram quando ela mergulhou no mar. "Eu tinha ficado em cima da baleia; mas Alá me socorreu pondo a meu alcance uma tábua de salvação. Agarrando-me a ela, e fazendo esforços extenuantes com pés e braços, cheguei a uma pequena ilha vizinha..." Na segunda viagem, o navio que levava Sinbad ancorou numa ilha. O clima e o tempo eram tão agradáveis que Sinbad dormiu debaixo de uma árvore. "Quando acordei, não vi nenhum dos meus companheiros e descobri que o navio tinha ido embora sem que ninguém notasse minha ausência. "Dando-me conta de que meus lamentos de nada adiantariam, trepei numa árvore para evitar encontros fatais com algum animal feroz ou algum inimigo. Olhando em todas as direcções, avistei ao longe algo redondo, enorme e branco. Desci e fui até lá, e vi que se tratava de uma cúpula desmedida. Andei em volta dela, mas não encontrei nenhuma porta de entrada."Enquanto reflectia no que poderia fazer para penetrar e me refugiar nela, notei que o dia se transformava rapidamente em noite escura. Supus que fosse uma nuvem espessa a obscurecer o sol, embora achasse o fenómeno impossível em pleno verão. Ergui, pois, a cabeça para verificar e vi uma ave de tamanho e asas colossais que ocultava o sol. "Não conseguia acreditar no que via até que me lembrei de que viajantes e marujos me haviam falado de um pássaro de dimensões terrificantes chamado abutre que vivia numa ilha distante e era capaz de levantar um elefante. Concluí que aquela ave era o abutre e que a cúpula branca e lisa nada mais era que um de seus ovos. "Fiquei certo de minhas conclusões quando vi a ave descer a terra e cobrir o ovo para chocá-lo. Nesta posição, ela deixou as duas patas pendentes de cada lado do ovo, e adormeceu. "Vista de perto, cada uma das patas parecia maior que o tronco de uma velha árvore. Veio-me então a ideia da salvação. Desfiz o tecido que envolvia meu turbante, torci-o numa corda sólida que enrolei em volta da cintura e amarrei numa das unhas da ave. Pois, pensei, este abutre acabará por voar, e depois pousará em algum lugar mais próximo dos homens que esta ilha isolada. Levantar-me-á com ele e me depositará onde pousar." Foi assim que Sinbad o Marinheiro se salvou mais uma vez. Um dia, Sinbad decidiu não mais viajar. "Devo contar-vos, meus amigos, que após voltar da sexta viagem, afastei da mente toda ideia de enfrentar outra vez o desconhecido e quis, antes, gozar preguiçosamente a vida. Mas meu destino me perseguiu. O califa arun Ar-Rachid quis que eu levasse uma carta sua e presentes ao rei de Sarandib. Vi-me, pois, obrigado a partir. Embarquei em Basra. “O vento favoreceu-nos e, após dois meses, chegamos em Sarandib”.
Entreguei a carta e os presentes do califa e, desculpando-me junto ao rei por não poder demorar em sua Terra, reembarquei num navio que vinha para Basra. "O vento continuou a favorecer-nos por algum tempo; mas, um dia, quando estávamos a uma semana da ilha de Sin, irrompeu um vendaval terrível. E uma chuva torrencial nos inundou. O capitão subiu ao alto do mastro, de onde examinou o horizonte. Quando desceu, estava lívido. Puxou a barba, bateu com os punhos no rosto e disse em tom de desespero: `A corrente nos desviou de nossa rota, atirando-nos aos confins dos mares do mundo. Chorai e dizei adeus à vida. Estamos todos perdidos.' "Tirou então um livro escondido no peito e folheou-o atentamente; depois, virando-se para nós, declarou: `Meu livro mágico confirma meus piores temores. A terra que vedes ao longe é a Região dos Reis, onde nosso senhor Soleiman Ibn Daud está sepultado.
Monstros marinhos pululam nessas costas, e o mar está cheio de peixes gigantes que podem engolir de uma vez um navio inteiro. Agora sabeis o pior. Adeus!' "Ficamos gelados pelo medo e o horror. De repente, o navio foi levantado e depois depositado entre as ondas, enquanto um bramido mais terrível que o trovão chegava do mar. Os ventos e as ondas remoinhavam a nosso redor, e vimos um monstro marinho do tamanho de uma montanha avançar para nós, seguido por outro monstro ainda maior e por um terceiro monstro igual aos dois primeiros juntos. "Este último, abrindo uma goela do tamanho de um vale entre duas colinas, tragou três quartos de nossa embarcação, com tudo que ela continha. Tive apenas tempo de recuar até o alto do convés e saltar às águas antes que o monstro engolisse todo o navio e sumisse nas profundezas do mar, com seus dois companheiros." Mas uma vez, superando os perigos graças a sua sorte e engenhosidade, Sinbad voltou para Bagdad, são, salvo e rico. Entre outras curiosidades que contou, disse que havia escalado uma montanha tão alta que chegou a ouvir os anjos cantarem louvores ao Senhor dos Mundos. Desta vez, era mesmo a última viagem. Viveu na felicidade em Bagdad até que foi visitado por aquela que interrompe as alegrias, quebra as amizades, destrói os palácios e edifica os túmulos: a amarga morte. Gloria Àquele que vive para sempre!