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07/01/2009

A canção da cerejeira



Disse Deus na Primavera: – Ponham a mesa às lagartas! E a cerejeira cobriu-se imediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas e verdejantes.
A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se, abriu a boca, esfregou os olhos e pôs-se a comer tranquilamente as folhinhas tenras, dizendo:
– Não se pode a gente despegar delas. Quem é que me arranjou este banquete?
Então Deus disse de novo: – Ponham a mesa às abelhas! E a cerejeira cobriu-se imediatamente de flores, milhões de flores delicadas e brancas.
E a abelha matinal, aos primeiros raios da aurora, pousou sobre elas, dizendo:
– Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão lindas em que o deitaram.
Provou, exclamando: – Que deliciosa bebida! Não pouparam o açúcar!
No Verão disse Deus: – Ponham a mesa aos passarinhos! – E a cerejeira cobriu-se de mil frutos apetitosos e vermelhos.
– Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa hora; temos apetite; e ganharemos forças para cantar uma nova canção.
No Outono disse Deus: – Levantai a mesa; já estão satisfeitos. – E o vento frio das montanhas começou a soprar; e fez estremecer a árvore.
As folhas tornaram-se amarelas e avermelhadas, caíram uma a uma, e o vento que as lançara ao chão erguia-as novamente, fazendo-as remoinhar.
Chegou Dezembro e disse Deus: – Cobri o resto! – E os turbilhões dos ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descansa.