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08/09/2010

O Lidador ou a Lenda da Porta da Traição




O cerco do exército português à fortaleza de Óbidos, dominada pelos mouros, durava já há cerca de dois meses. Um dia, D. Afonso Henriques e Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador, decidiram que o ataque seria realizado na madrugada do dia seguinte. Dormia já o Lidador, quando foi acordado por uma voz de mulher que lhe pedia para ser conduzida à tenda do rei de Portugal, pois tinha algo de importante a comunicar-lhe. A jovem vivia no castelo dos mouros mas não sabia se era moura porque nunca tinha conhecido os seus pais. Junto do rei, a jovem revelou o seu sonho que se repetia há três noites. No sonho, aparecia-lhe um homem novo e de olhar doce que a incumbia de transmitir uma mensagem para o rei de Portugal: o rei deveria reunir os soldados e liderá-los num ataque surpresa na parte fronteiriça do castelo, enquanto que o Lidador se deveria dirigir com dez homens às traseiras onde a jovem donzela abriria uma porta para os deixar passar. O homem de olhar doce prometia Óbidos aos cristãos e a salvação à jovem donzela. Apesar da hesitação do Lidador, D. Afonso Henriques decidiu cumprir o que a jovem lhe contou. Na manhã seguinte, Óbidos foi conquistada conforme o sonho da misteriosa jovem que nunca mais foi vista. A porta que franqueou a entrada dos cristãos ficou para sempre conhecida como a Porta da Traição.

06/09/2010

O Mercador e o Louro



Era uma vez um mercador que mantinha um papagaio preso em uma gaiola. Quando estava para ir à Índia, em uma viagem de negócios, ele disse ao pássaro:
- Eu estou indo à sua terra natal. Você tem alguma mensagem para os seus parentes selvagens?
- Simplesmente diga a eles - disse o papagaio - que estou vivendo aqui em uma gaiola.
Quando o mercador retornou, falou ao papagaio:
- Eu sinto dizer que tão logo encontrei os seus parentes selvagens lá na floresta e os informei de que você estava engaiolado, o choque foi muito forte para um deles.
Assim que ouviu a notícia, caiu do galho onde estava e não tenho dúvida de que morreu de tristeza. Imediatamente, logo que o mercador terminou de falar, o papagaio teve um colapso e caiu inerte no chão de sua gaiola.
Penalizado, o mercador tirou o papagaio da gaiola, colocando-o do lado de fora, no jardim.
Então o papagaio, que havia captado a mensagem, levantou-se e voou para fora do alcance do mercador.

Moisés e as rãs

Parting the Waters Art Print

Era uma vez, nas margens do rio Nilo, no Egipto, uma casinha. Dentro dessa casinha estava um berço. E, nesse berço, um bebé, que ainda não falava e tinha uns olhos enormes e sorridentes. A mãe chamava-lhe Yocheved e amava-o muito. Alimentava-o, cuidava dele e levava-o a dar longos passeios quando fazia sol.
Naquele tempo, um rei malvado governava o Egipto. Era um Faraó. Tratava os Judeus com crueldade e fazia deles escravos. Um dia decretou:
— Cada primogénito judeu que nascer deve ser deitado ao rio.
O Faraó deu esta ordem porque era muito maldoso.
Quando Yocheved teve conhecimento deste decreto, olhou para o filho e disse para consigo: “Nunca o atirarei ao rio. Escondê-lo-ei onde não possam encontrá-lo.” E foi exactamente isso que fez, em segredo.
Depois de o ter feito, os soldados egípcios bateram à sua porta.
— Existem alguns bebés rapazes nesta casa? — perguntaram.
— Claro que não — respondeu Yocheved, toda a tremer.
Mesmo assim, os soldados revistaram a casa toda. Mas, como não encontraram nada, foram-se embora.
Os dias passaram e Yocheved manteve o filho escondido. Mas o menino não gostava de estar naquele canto escuro. Chorava continuamente, e ansiava pelo sol e pela luz. Então, Yocheved percebeu que não podia continuar a esconder o filho daquela maneira. Pegou num pequeno cesto, acolchoou-o para o tornar confortável, e pintou-o com alcatrão por fora. Pôs o bebé no cestinho e levou-o até junto do rio Nilo.
Esgueirou-se por entre os canaviais e colocou o bercinho na água, dizendo:

— Vai, meu barquinho,
Leva o meu filhinho,
Deixa esta arca vogar.
Que as tuas águas
Possam sobre ele
Olhar.

Beijou o bebé e deixou-o sozinho. Tinha os olhos rasos de lágrimas.
De repente, apareceu uma rã junto dela e começou a coaxar:
— O que se passa?
— Oh, rãzinha, estou muito preocupada. Não consigo esconder mais o meu filho do Faraó; por isso, tive de o pôr num bercinho e abandoná-lo à sua sorte. Flutuará rio abaixo e a sua vida será poupada… Mas tenho o coração pesado. Como posso voltar para casa sem o meu filho?
— Não te preocupes. Nós tomaremos conta do teu filho. Venham daí, meninas…
Subitamente, centenas de rãs surgiram aos saltos de todos os lados. Ficaram a olhar para o bebé, muito surpreendidas. Nunca tinham visto nada igual. Durante toda a noite, vigiaram o bercinho e embalaram a criança. Contudo, ao romper do dia, a criança começou a chorar. Tinha fome. As rãs deram-lhe lama para comer, mas a criança não comia lama. Deram-lhe pequenas moscas, mas ela recusou. Cada vez chorava mais.
De repente, ouviu-se um barulho de tambores e címbalos à distância. A filha do Faraó e as suas aias passeavam ao longo da margem do rio. Quando a princesa viu o cestinho a flutuar, rodeado de rãzinhas, perguntou-lhes:
— Porque fazeis tanto barulho?
As rãs contaram-lhe tudo. A filha do Faraó olhou para dentro do cesto e viu o bebé a chorar de fome. Pegou nele, levou-o para o palácio e chamou-lhe Moisés. “Moisés” significa “aquele que é salvo”, e ela tinha-o salvo das águas.
Moisés cresceu e tornou-se um belo rapaz. Vivia no palácio e a filha do Faraó era como uma mãe para ele.
Um dia, Moisés foi até aos campos. Viu como os Israelitas trabalhavam duramente e os Egípcios os castigavam. Ficou muito triste. Deixou o palácio e foi até junto do rio. Quando chegou junto da margem, ouviu uma voz a perguntar:
— Porque estás tão triste, Moisés?
Moisés falou às rãs dos fardos que os Israelitas tinham de suportar. Os bichinhos ouviram-no e coaxaram:
— Não te preocupes, havemos de te ajudar.
Nessa mesma noite, as rãs foram até terra firme aos milhares. Entraram no palácio real e foram até ao quarto do Faraó. Saltaram para a cama deste e meteram-se debaixo da cama. Puseram-se em cima da mesa e debaixo da mesa. O Faraó queria deitar-se, porque estava cansado. De repente, deu-se conta de que as rãs tinham invadido o seu leito. Deu um salto e começou a vestir-se à pressa. As suas mangas estavam cheias de rãs! Tentou beber um copo de água, mas dentro do próprio copo estava uma rã bem verde e gordinha. Estavam por todo lado, em todos os cantos e esquinas do palácio. O Faraó pôs-se a gritar:
— Quem se atreveu a trazer estas pestes para dentro do palácio?
Moisés entrou no quarto e respondeu:
— Se deixares o meu povo partir, livrar-te-ei destas rãs…
— Deixo-os ir, vão, vão! — gritou o rei.
Então Moisés ergueu o bordão e ordenou:
— Rãs, regressai ao rio!
As rãs saltaram de novo para a água.
Mas o Faraó não cumpriu a sua promessa e não deixou os Israelitas partir. Então, Moisés mandou mais pragas sobre o Egipto. Só depois da décima praga, puderam os Israelitas partir.


Conto de Israel

Levin Kipnis
Let us play in Israel
Tel-Aviv, N. Tversky Publishing House, 1966
tradução e adaptação

Durgha, manifestação de Parvati

É uma das manifestações de Parvati, diz-se possuidora de grande beleza, com três olhos como lótus, dez poderosas mãos, cabelos anelados, seus ornamentos são feitos de ouro, cravejado de pérolas e pedras preciosas. Suas armas são as armas de todos os deuses e seu vahana (veículo) é Astrid, representado algumas vezes como um leão e outras como um tigre.

Conta o mito que o Rei dos Assuras, Rambha, apaixonou-se por um Búfalo e desse casameto nasceu Mahishashura, que era muito devoto de Brahma, que em gratidão Brahma resolveu lhe conceder um desejo, e Mahishashura desejou não ser morto por nenhum homem ou deus. Dessa forma, com tal poder, passou a aterrorizar o mundo. Como não podia ser morto nem por homens e nem por deuses (masculinos), os deuses Shiva, Brahma e Vishnu reuniram os deuses e decidiram que teria que ser uma deusa a enfrentar Mahishashura, sendo assim, Parvati se torna Durgha e recebe as armas dos deuses. Uma imensa luta foi travada, enquanto os deuses só podiam observar.

Em outra passagem, os Assuras gémeos, Chanda e Munda, resolveram atacar Durgha que foram impiedosamente mortos pela sua espada.



05/09/2010

O Filho do Rei

Uma vez, num país onde todos os homens eram como reis, vivia certa família, plenamente feliz, em meio a um ambiente de tais características que a linguagem humana não conseguiria descrever em termos de coisa alguma conhecida actualmente pelo homem. Este país de Sharq parecia satisfatório aos olhos do jovem príncipe Dhat, isto até o dia em que seus pais lhe disseram:
— Querido filho, é costuma obrigatório em nosso país que cada príncipe da casa real, ao atingir certa idade, viaje a fim de se submeter a uma prova. Isto é feito com o objectivo de prepará-lo devidamente para reinar, e para que obtenha em reputação e na realidade, por meio de seu empenho e espírito de alerta, um grau de nobreza que não se obtém de nenhum outro modo. Assim tem sido determinado desde o princípio, e assim será feito até o fim.
Desse modo, o príncipe Dhat se preparou para a sua viagem, munido do que sua família podia proporcionar-lhe para seu sustento: uma comida especial que o alimentaria durante seu exílio, de pequeno volume mas de inapreciável valor nutritivo.
Também lhe deram certos outros recursos, que não é possível mencionar aqui, que usados devidamente o protegeriam.
Devia viajar a um certo país, chamado Misr, e teria que ir disfarçado. Foi assim que lhe escolheram guias para a viagem, e trajes adequados à sua nova condição. Roupas que guardavam pouca semelhança com a usada por alguém de sangue real.
Sua missão seria resgatar certa jóia, guardada em Misr por um terrível monstro.
Quando seus guias partiram de volta, Dhat se viu só, mas logo se encontrou com alguém que ali se achava cumprindo uma missão similar. E, juntos, puderam manter viva a lembrança de suas origens nobres. Mas, devido ao ar e à comida daquele país, uma espécie de sono logo os envolveu. E Dhat se esqueceu de sua missão.
Durante anos viveu em Misr, ganhando a vida no desempenho de uma função humilde, aparentemente alheio ao que deveria estar fazendo.
Graças a um recurso que lhes era familiar, mas desconhecido para outras pessoas, os habitantes de Sharq vieram a conhecer a lamentável situação de Dhat, e juntos agiram, de um modo por eles conhecido, para ajudar a libertá-lo daquele encantamento e permitir-lhe prosseguir com sua missão. Por meio de um estranho expediente uma mensagem foi enviada ao jovem príncipe, dizendo: "Desperte, pois é filho de um rei, enviado em uma missão especial, e deve retornar a nós."
Essa mensagem despertou o príncipe, que conseguiu localizar o monstro, e graças ao emprego de sons especiais o fez adormecer, recolhendo então a jóia inestimável que ele guardava.
Então Dhat obedeceu aos sons da mensagem que o tinha despertado. Trocou suas roupas pelas de seu país e sempre guiado pelo Som voltou ao pais de Sharq.
Num tempo surpreendentemente curto, Dhat viu-se de novo contemplando suas antigas vestimentas, e o país de seus antepassados, e chegou ao seu lar.
Desta vez, no entanto, graças à experiência adquirida, pôde ver que se tratava de um lugar mais esplêndido que nunca, um lugar seguro para ele. E percebeu que era aquele o lugar relembrado vagamente pela gente de Misr como Salamat: palavra que para eles significava Submissão, mas que, agora podia compreender bem, significava paz.

A ostra e o camundongo

Uma ostra viu-se, juntamente com um grande número de peixes, dentro da casa de um pescador, pouco distante do mar.
- Vamos todos morrer - pensou a ostra ao ver seus companheiros espalhados pelo chão, quase asfixiados.
Um camundongo veio passando.
- Escute, camundongo! - disse a ostra - será que você pode fazer favor de me levar para o mar!
O camundongo olhou para a ostra: era grande e bonita. Devia ser deliciosa.
- Certamente - respondeu o camundongo, decidido a comê-la - mas você precisa abrir sua concha, porque assim, fechada desse jeito, não posso carregá-la.
A ostra abriu cautelosamente a concha e o camundongo imediatamente meteu o focinho para abocanhá-la. Porém, em sua pressa, enfiou demais a cabeça e a ostra fechou-se, prendendo o roedor pelo pescoço. O camundongo deu um grito. Um gato ouviu, veio correndo e devorou-o.

Fábulas de Leonardo da Vinci

04/09/2010

O Açor e o Príncipe - Lenda dos Três Milagres


Diz a lenda que, em tempos que já lá vão, um rei espanhol, desesperado por não ter filhos, invocou a bênção de uma Nossa Senhora dos Milagres de Celorico da Beira, famosa por ter salvado um pastor e a sua vaca de morrerem afogados. Nossa Senhora dos Milagres abençoou-o e o rei teve um filho. Contudo, o filho tornou-se inválido. Foram consultados sábios e físicos, mas nada resolveram. A rainha decidiu pedir à Virgem um segundo milagre e, juntamente com o rei e o príncipe, partiram em romagem à Virgem. Já perto do local, o pequeno príncipe morreu. Desesperado, o rei culpou a rainha pela iniciativa da viagem e decidiu enterrar o filho ali mesmo. A rainha não o consentiu e, apoiada na sua fé, quis levar o corpo do principezinho até junto da Virgem dos Milagres. Depôs o filho aos pés da imagem e ali ficou a rezar. Descrente, o rei resolveu ir caçar. Quando lhe disseram que um dos caçadores tinha soltado um dos seus açores reais por achar que as aves tinham sido criadas por Deus para voarem e não para estarem presas, condenou-o à morte, ordenando que começassem por lhe cortar a mão que tinha soltado o açor. Estava já o carrasco com o machado levantado quando o açor veio pousar na mão que ia ser cortada. No mesmo instante, chegou a rainha com o seu filho vivo. Tendo testemunhado os milagres, o rei libertou o caçador e todos os açores do reino e mandou construir a igreja de Santa Maria dos Açores.

03/09/2010

O Cachorro, o Bordão e o Sufi

Um homem vestido como um sufi caminhava certo dia pela estrada quando viu um cachorro à beira do caminho, ao qual golpeou duramente com seu bordão. O cachorro, ganindo de dor, correu à procura do grande sábio Abu-Said. Arrojando-se a seus pés e mostrando sua pata ferida, clamou por justiça contra o sufi que o maltratara tão cruelmente. O sábio chamou a vítima e o acusado. Fitando o sufi, ele disse:
- Ó insensato! como é possível tratar assim um pobre animal? Veja bem o que você lhe fez!
- A culpa não me cabe, e sim ao cão. Não lhe bati por mero capricho, mas sim por ter sujado meu manto.
Mas o cachorro persistia em sua queixa. Então o venerável sábio disse ao cachorro:
- Em vez de aguardar a Recompensa Final, permita que lhe dê uma compensação pela sua dor.
Ao que o cachorro retrucou:
- Grande e sábia criatura, quando vi este gomem ataviado como um sufi, pude deduzir que não me faria mal algum. Em troca, se eu tivesse visto um homem vestido de maneira comum, naturalmente que me afastaria dele. Meu verdadeiro erro foi supor que a aparência exterior de um homem devotado à verdade representava segurança. Se deseja que ele seja castigado, despoje-o da vestimenta dos Eleitos. Retire-lhe os paramentos dos servos da Virtude...
O cachorro estava num certo Degrau do Caminho para a verdade. É um erro crer que um homem deve ser melhor do que aparenta.

02/09/2010

Lenda da Dona Branca ou da tomada de Silves aos Mouros

Em Silves, reinava o mouro Ben-Afan. Um dia, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho extraordinário. O sonho começou por ser um pesadelo, com tempestades e vampiros, mas transformou-se numa visão de anjos, música e perfumes. Terminou com o rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito. No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho. Este significava que a sua vida iria mudar. Deu-lhe então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respectivamente o amor e a glória. Consoante os ramos murchassem ou florissem, assim o rei deveria seguir as respectivas indicações. Enviou-o ao Mosteiro de Lorvão e disse-lhe que lá o esperava a mulher da sua vida: Branca, princesa de Portugal. Ben-Afan entrou no mosteiro disfarçado de eremita. Ambos ficaram apaixonados quando se viram. O rei mouro voltou ao seu castelo e preparou os seus guerreiros para o rapto da princesa. Branca de Portugal e Ben-Afan viveram a sua paixão sem limites, esquecidos do mundo e do tempo. O ramo de murta mantinha-se viçoso. Um dia, D. Afonso III, pai de Branca, cercou a cidade de Silves e Ben-Afan morreu na batalha que se seguiu. Nas suas mãos foram encontrados um ramo de murta murcho e um ramo de louro viçoso.

Silves.jpg image by jmcreis


Agar


Agar ou Hagar (do hebraico הָגָר " a estrangeira" , no árabe هاجر )é o nome da serva egípcia de Sara, esposa de Abraão de acordo com o livro de Gênesis na Torá. Devido ao fato de ser estéril, Sara teria permitido que Abraão coabitasse com Agar no sentido de gerar um herdeiro. Desta união, foi gerado Ismael. De acordo com a tradição judaico-cristã, Agar desprezou Sara já que esta não podia conceber; e quando Sara concebeu milagrosamente a Isaque, Ismael passou a perseguir e humilhar seu meio-irmão. Devido a este fato, Sara incitou Abraão para que expulsasse Agar e Ismael. Estes quase pereceram de fome e sede no deserto, até serem socorridos milagrosamente por Deus. Agar acabou cuidando de Ismael até que este crescesse e se casasse. A Torá não continua a descrever sua vida além deste ponto.

Agar teve sua experiência com Deus. Apesar de escrava, Deus demonstrou amor para com ela e com seu filho Ismael. Mesmo no deserto, ela foi amparada pelo Criador (Deus de abrãao). Por duas vezes, ela foi surpreendida pelo anjo do Senhor que a ajudou dando-lhe água e também abençoando sua vida e decendência. A Bíblia diz que Deus abriu os olhos de Agar para que ela visse um poço de água e ali no deserto ela e seu filho Ismael foram abençoados e prósperos.

01/09/2010

A antiga cítara

Havia entre os objectos preciosos que enchiam a sala do Tesouro imperial uma antiga cítara que ninguém ousava tocar depois de muitotempo. Conta a lenda que ela era feita de madeira de uma árvore que, em tempos imemoriais, tinha sido o rei da floresta de Longmen, um lugar de grande concentração de energia. Sua cabeça altiva dialogava com o vento e com as estrelas e suas raízes profundas alimentavam-se do sopro do Dragão da Terra. O espírito da árvore tinha um grande poder e o instrumento musical que o músico mágico tinha fabricado em tempos antigos com sua madeira era recatado e difícil de ser aprisionado.
Raros os músicos que conseguiam encordoar a cítara e mais incomum ainda os que conseguiam tirar delas sons melodiosos. Huangdi, o mítico ImperadorAmarelo, foi a o primeiro a tocá-la, compondo para ela árias esquecidas que, dizem, podiam sair à caça das nuvens ou trazer a chuva. Nos séculos seguintes, houve ainda alguns grandes conhecedores de música que conseguiram arrancar sons harmoniosos da cítara sagrada, como se ela os reconhecesse. Mas, depois de muitas dinastias, todos que tentaram tocá-la conseguiram apenas sons desafinados e lamentáveis cacofonias, sinal de que os verdadeiros músicos não existiam mais.
Um imperador quis então escolher o novo músico da Corte e recorreu a essa cítara, que ele mandou retirar da sala dos tesouros. Ele queria saber se existia alguém cuja arte tinha ainda algo de mágico ou se um talento desse tipo era apenas uma lenda de tempos antigos. Ele anunciou em todo o império os termos do concurso.
Poucos músicos apresentaram-se, com medo de passar vergonha diante do Filho do Céu. E foi com dificuldade que os músicos da Corte se submeteram à prova. O que eles mais temiam aconteceu: eles tiraram do instrumento apenas guinchos, grunhidos e coinchos, que levaram ao rosto do imperador e da Corte todo tipo de careta. Os poucos músicos vindos dos quatro cantos do império não trouxeram também qualquer satisfação à platéia.
Chegou então um músico errante, um desses andarilhos que se vestem com trapos, toca para os pássaros dos pinedos, para os peixes nas torrentes e para os peregrinos no pátio dos templos. Ele pegou a cítara, acariciou longamente sua caixa de ressonância, como se tentasse tranqüilizar um cavalo inquieto. Com uma mão, fez vibrar cada corda, apenas aflorando-a, e com a outra, dirigia os sons com um sorriso interior de uma mente que contempla a amada.
Uma melodia subiu docemente, vagas notas cristalinas foram se elevando e evanesceram como o fluxo e o refluxo das ondas nas margens de um lago. E de dentro desse tempo, que era outono, um vento morno soprou na sala. Ele chegou com o perfume das cerejeiras em flor. Os semblantes da nobre assembléia irradiaram uma alegria tranqüila. Os músicos reconheceram logo o tom Kiao, o da primavera. A música acelerou-se de repente e pegou a tonalidade Zhe. Um vento quente fez cricrilar os grilos debaixo das vigas e das traves, os pulsos reconheceram o chamado e os corpos entraram num torvelinho de vida. Os dignatários perderam o ar contido e seguiram os sons com movimentos da cabeça, balançando o corpo no ritmo da cadência. Alguns se levantaram e dançaram. A música ficou mais lenta, apoiada no tom Wu. Um vento glacial soprou seus lamentos entre as colunas de mármore e os flocos de neve voltearam na sala e se misturaram com as lágrimas da nostalgia no rosto da nobre assembléia.
A cítara deu suas últimas notas, que ficaram ressoando ainda durante muito tempo sob a abóbada do palácio. Depois fundiram-se, devagar, na vibração do silêncio, que se transformou em perplexidade presente. Depois de algum tempo, a voz do imperador tirou a platéia de seu estranho torpor.
— Minhas felicitações. Você conseguiu chega ronde todos malograram. Acaba de seu escolhido o Músico da Corte. Diga o seunome e explique o segredo de sua arte.
O músico errante esboçou um tímido sorriso e disse:
— Meu nome é Peiwu, Majestade. No meu humilde entender, os outros malograram porque eles queriam fazer as pessoas ouvirem sua música. Eu, ao contrário, deixei a cítara escolher seu repertório. Eu seria incapaz de dizer se foi Peiwu que tocou a cítara ou se foi a cítara que tocou Peiwu. Graças a esse instrumento divino, eu fui até o fim no meu sonho de músico e de agora em diante não preciso de mais nada. Esse foi meu objetivo ao vir até aqui.
Ele deixou a cítara aos pés do Imperador e passou pela grande porta laqueada de vermelho e de dourado. Quando o imperador saiu de sua estupefação, deu ordens para que trouxessem diante dele o Músico da Corte que tinha escolhido. Mas a neblina do outono já tinha engolido sua sombra.

São flores



Estava uma flor bordada num saco de guardanapo a olhar para uma flor pintada numa jarra de porcelana. E vice-versa.
A flor bordada queria meter conversa com a flor pintada. E vice-versa.
Entretanto, a flor bordada pensava: ""Sou mais bonita do que ela."" E vice-versa.
Até que a flor bordada resolveu dizer precisamente o contrário do que pensava:
- Nunca vi flor mais bonita do que tu.
A flor da jarra retorquiu, no mesmo tom:
- Tu, sim, és a mais bonita. Uma perfeita imitação.
Neste ponto, a conversa estragou-se.
- Imitação? - estranhou a flor do saco de guardanapo. - Imitação de quê?
- Imitação de uma flor verdadeira - respondeu a flor pintada na jarra.
- Ora essa! Eu sou uma flor incomparável, uma flor bordada, verdadeiramente bordada com toda a verdade da arte.
Agora, enfim, estava a dizer o que pensava. Não lhe ficou atrás a outra flor:
- Verdadeira obra de arte sou eu. Não há flor pintada mais autêntica, pode crer.
Argumentaram, discutiram, zangaram-se. Perderam a elegância do trato. Passaram a dizer mais do que pensavam:
- Você é uma reles imitação - dizia a flor pintada.
- E você é uma falsificação barata - dizia a flor bordada.
Nisto, mãos femininas vieram colocar uma flor na jarra, até então vazia.
- Qual é o tema da discussão? - quis saber a recém-vinda, debruçada da jarra.
Puseram-na a par da disputa e logo a nova flor, que era dotada de um caule esguio, folhagem vaporosa e pétalas gentis, rodopiou na jarra de porcelana, para dizer, num risinho de superioridade:
- Não sejam ridículas e olhem para mim. Haverá flor mais encantadora e mais verdadeira do que eu?
As duas outras calaram-se. Afinal, a flor de folhas frágeis, que qualquer corrente de ar agitava, a flor de longa haste, mergulhada na jarra, é que tinha razão.

Aqui para nós e em segredo, diremos que também não tinha razão nenhuma. Pois se ela era apenas uma simples flor de papel...

A esposa guerreira


Em uma tribo, havia muito tempo, viviam uma mulher e seu marido. O pai da mulher era o chefe, e seu marido era um guerreiro chamado Falcão Azul.
Um dia, Falcão Azul partiu numa expedição de guerra com seu melhor amigo, Falcão Vermelho. Quando estavam a caminho, Falcão Vermelho disse: – Você está deixando sua mulher sozinha. Aposto como ela vai dormir com outro homem hoje à noite.
Falcão Azul balançou a cabeça, e disse: – Minha esposa é fiel a mim e eu confio nela.
Falcão Vermelho, que não era casado, riu e disse: – Aposto como posso voltar e dormir com sua mulher hoje à noite.
Falcão Azul ficou indignado: – Você está enganado.
Falcão Vermelho disse: – Aposto tudo o que eu tenho como consigo dormir com sua esposa hoje à noite.
Relutando Falcão Azul concordou com a aposta, e os dois empenharam seus cavalos, armas e roupas, além de todas as suas posses, nesta aposta.
Falcão Vermelho voltou e rodeou a esposa de Falcão Azul o dia inteiro, sorrindo para ela, mas ela o ignorou. Ele pensou: – Ela é mesmo fiel a Falcão Azul. Desesperado porque ia perder a aposta, foi procurar ajuda de uma mulher mais velha e explicou-lhe a aposta e prometeu pagar lhe generosamente por sua ajuda. Você, disse à velha, só precisa descobrir como é a esposa de Falcâo Azul sem roupas. Se eu ficar sabendo a aparência dela poderei dizer que dormi com ela.A mulher concordou e foi até a tenda da esposa de Falcão Azul. Aproximou-se com cara de cansada e abatida e falou se a moça poderia ajudá-la. A moça ficou com pena da velha e lhe disse para entrar e descansar.
Obrigada, disse a velha. Estou longe de casa e não tenho aonde passar esta noite. A moça logo lhe disse que poderia passar a noite com ela.
Quando veio a noite, ela ofereceu à velha peles macias e cobertas. A velha fingiu que dormia, mas ficou olhando com atenção quando a esposa se despiu para dormir. Ela escovou um tufo de cabelos dourados que crescia em seu abdomen, trançou-os e enrolou em torno da cintura por cinco vezes. A velha viu também que ela tinha uma marca de nascença nas costas.
Na manhã seguinte, a velha agradeceu e depois correu até onde estava Falcão Vermelho para lhe contar o que tinha visto. Este riu deliciado e cavalgou até onde se encontrava Falcão Azul e disse: – Ganhei a aposta! Na noite passada dormi com sua esposa.
Falcão Azul recusou-se a acreditar, mas Falcão Vermelho descreveu a trança de cabelos dourados e a marca de nascença e ele não pode mais duvidar.
Agora, disse Falcão Vermelho, você tem que me dar o que prometeu. O outro não disse nenhuma palavra, deu-lhe tudo o que possuia.
A esposa não entendia o que se passava e perguntou lhe o que estava fazendo. Ele ficou em silêncio, saiu da tenda, e com peles de animais fez um baú onde colocou utensílios, dinheiro e alimentos. Depois disse à mulher que iria fazer uma viagem pelo rio e queria que ela viesse com ele. Ele lhe pediu que vestisse o que tinha de mais belo e depois entrasse no baú. Quando ela fez o que ele pedira, ele amarrou o grande pacote, encaminhou-se para o rio e jogou-o na água.
Depois, voltou sozinho para a aldeia, e quando os vizinhos perguntaram onde estava sua esposa ele recusou-se a responder. Após alguns dias, o chefe ficou preocupado com a filha e perguntou a Falcão Azul onde ela estava. Como este continuasse calado, o chefe ordenou que um buraco fosse cavado até o inferno e jogou Falcão Azul nele.
Enquanto isso, a esposa flutuava rio abaixo dentro do baú. Um homem que estava pescando viu aquele grande embrulho, puxou-o para a margem e o desamarrou, descobrindo assim,a esposa que saiu apavorada. Ela pediu ao homem que trocassem de roupa, e ele concordou, assim ela ficou vestida de homem e então, dirigiu-se a uma aldeia das redondezas.
Uma expedição de guerra estava se preparando para partir, e a moça uniu-se ao grupo. Os jovens guerreiros comentavam entre eles de como o desconhecido tinha rosto de mulher. Um deles resolveu fazer amizade com ela para tirar a dúvida e descobrir mesmo se ela era mulher.
Naquela noite, quando o grupo acampou, ela armou sua tenda longe dos outros. Disse que era Xamã e explicou que era preciso proteger o seu poder para o ataque que viria. Mostrou aos homens a pedra sagrada de águia branca e disse que sua cura vinha do sol. Quando todos se recolheram para dormir, um guerreiro veio até ela e pediu-lhe licença para dormir na sua tenda. Ela recusou, mas ele tanto insistiu que ela deixou e, assim deitaram em lados opostos da tenda.
No meio da noite, o jovem chegou até ela e quis tocá-la, mas ela estava de guarda . O que está fazendo?, ela perguntou e ele desistiu.
Na noite seguinte, outro jovem pediu para dormir na sua tenda e também tentou tocá-la, mas ela estava acordada e frustou a tentativa do rapaz.Na última noite , a expedição aproximou-se do território inimigo, e eles instalaram suas tendas. Ela disse aos homens que permanecessem dentro das tendas, enquanto ela usava seu poder de cura. Ela pegou um pacote de feitiçaria e fez o feitiço, e, instantaneamente, todos os guerreiros inimigos morreram. Ela deu um grito de guerra e acordou a todos que saíram atordoados de suas tendas, pensando que estavam sofrendo um ataque.
Matei o inimigo, ela declarou. Vou sair agora para tomar seus escalpos e armas. Saltou no lombo do seu cavalo, foi até o acampamento do inimigo e voltou com seus troféus. Os homens ficaram estupefactos. Pensaram que ela só podia ser um homem para agir assim matando os inimigos sozinha. O grupo retornou para sua aldeia e os jovens cantaram em homenagem ao valor da guerreira . O chefe da tribo quis oferecer-lhe uma festa, mas ela não aceitou.
- Estou voltando para minha tribo e desejo chegar depressa. O chefe ofereceu escolta, mas ela só pediu um cavalo e ele deu-lhe o melhor que havia. Ela começou a viagem de regresso e, a caminho de casa, ainda disfarçada de homem, encontrou-se com um grupo de sua própria tribo. Quais são as novidades, ela perguntou. Eles lhe contaram a história de Falcão Vermelho com Falcão Azul, e acrescentaram que Falcão Vermelho tinha visto os cabelos dourados no seu ventre e a marca de nascença dela.Disseram que Falcão Azul tinha matado a esposa infiel e que o pai dela, o chefe jogara Falcão Azul num buraco. Ela entendeu tudo.
Ela voltou à aldeia e mostrou todos os escalpos e as armas que conquistara. Então despiu suas roupas de guerra e revelou-se a todos. Contou que Falcão Azul a trancara num baú e jogado rio abaixo, porque pensava que ela havia sido infiel, mas ele foi enganado , ela declarou.
Explicou que Falcão Vermelho e a velha deviam ter sido cúmplices na trama contra ela, então ordenou que Falcão Azul fosse libertado do poço. Ele estava pálido e muito magro, mas quando viu a esposa correu para os seus braços.
Ela dirigiu-se aos membros de sua tribo, e disse: – Agora devemos punir Falcão Vermelho e a velha. Pediu que eles fossem trazidos à sua presença e, para puni-los colocou-os amarrados na carruagem com cavalos selvagens para que fossem arrastados até morrer.
Toda a tribo fez uma festa para celebrar o retorno da valente esposa de Falcão Azul e, daí em diante eles viveram muito felizes.


A jóia na cabeça

Certa vez havia um grande e santo rei! que tinha uma imensa força e um coração extremamente amável. Ele foi o supremo entre os reis e era considerado de uma maneira altamente honrada que não era apropriado a ninguém. As pessoas chamavam-no de Rei Girador da Roda porque tinha recebido uma roda de jóias dos céus que girava enquanto governava o seu domínio e porque parecia como um sagrado e santo homem.
Ele foi um fino governante, e quando encontrava um estado que era dominado pelo mau, empreendia uma guerra contra ele e esmagava-o. Lutou continuamente: contra esses maus estados até que os subjugou a todos.
O Rei ficava muito contente em ver alguns dos seus soldados distinguir-se na guerra. De acordo com os seus méritos, dava-lhes vários tesouros como ouro, prata, conchas, ágata, coral e âmbar, ou almofadas, casas, vilas e cidades. Ele também distribuiu elefantes, cavalos e veículos aos que foram dignos. Cada vez que os soldados eram recompensados com presentes honráveis do rei, eles se vangloriavam, dizendo:
- Recebi anéis dourados e colares do Rei Girador da Roda.
- Ele me deu um fabuloso elefante e uma carreta de boi, elogiando a minha brava luta na guerra.
- Foram roupas desta vez para mim. Mas ainda conseguirei muito mais na próxima vez por minha valiosa luta.
- Mas os senhores não me superam. Estarei lutando com todas as minhas forças também.
Ele, contudo, não lhes deu uma brilhante gema que mantinha em sua cabeça porque a gema era a única da sua espécie no mundo. Se desse a alguém, seus seguidores poderiam ficar chocados.
Sakyamuni então explicou a história a Manjusri: "Manjusri! Eu, o Buda, tenho guardado o Sutra de Lótus cuidadosamente em meu coração e não contei a ninguém a respeito dele. Neste sentido sou como o Rei Girador da Roda que deu muitos tesouros aos seus soldados, mas que escondeu a mais valiosa gema. Eu, como o rei, tenho lutado e vencido muitos demônios. Muitos dos meus discípulos também lutam contra eles. Dei-lhes muitos tesouros da Lei e trouxe-os mais próximos da iluminação, mas não lhes ensinei o Sutra de Lótus que é a quintessência de toda Lei budista.
"Não disse anteriormente aos meus seguidores sobre o Sutra de Lótus porque ele poderiam não ter compreendido. Num mundo que está dominado pela mal e pela ignorância, as pessoas não têm a capacidade de compreender essa doutrina profunda. Assim foi necessário empreender a guerra e destruir o mal. Assim fazendo, foi possível ensinar gradualmente as pessoas, cada vez mais a respeito do verdadeiro estado de vida. Uma vez que as suas visões errôneas da realidade e a sua ignorância sejam revertidas, eles se tornarão mais receptivos e menos céticos daquilo que agora desejo lhes ensinar.
"Um dia o Rei Girador da Roda. viu um soldado de extraordinário mérito e deu-lhe aquela preciosa gema. Sou como esse rei. 0 Sutra de Lótus é o mais excelente e profundo de todos os ensinos pregados pelos Budas. Estou, portanto, expondo-o finalmente tal conto o rei que, somente no final, deu a brilhante gema a aquele que foi o seu mais digno seguidor.
" Manjusri! 0 Sutra de Lótus é o depósito do secreto saber do Buda. Está acima de todos os outros sutras e ensinos. Eu, portanto, conservei-o secreto e abstive-me de revelá-lo por um longo tempo. Agora estou pronto para o expor a toda a humanidade pela primeira vez! "

Esta história é uma das sete parábolas ensinadas no Sutra de Lótus, que aparece no décimo-quarto capitulo, '"Anrakugyohon". Ela mostra o principio de "kaigon kenjitsu" - Substituir os ensinos provisórios com o verdadeiro, que é, naturalmente, o Sutra de Lótus.

Parábola budista



O Batimento do oceano


O Batimento do oceano é um conto da mitologia hindú. Ele conta a história de uma disputa entre os Devas e os Assuras.

Numa época remota, existia um grande Asceta, o Sábio Durvasa. Um dia, ele estava caminhando com uma guirlanda de flores na mão, que na Índia se chama "Santanaka" para oferecê-la a Indra. Indra que vinha na posição oposta cavalgando o elefante Airavata, passou pelo sábio e o ignorou. Indra fez com que Airavata pisasse e rasgasse a guirlanda de flores. Durvasa se encheu de ira e rogou uma praga em Indra:
"O orgulho da riqueza subiu à sua cabeça, Lakshmi irá te abandonar."
Então Indra, que havia percebido a loucura que tinha feito, se curvou perante Durvasa e pediu seu perdão. Durvasa disse: "Que Vishnu o faça feliz" e partiu.
Por causa da maldição de Durvasa, Lakshmi deixou Indra e desapareceu. Como Lakshmi, a deusa da prosperidade, poder e coragem, desapareceu, a vida dos Devas se tornou miserável. Os Assuras depois dessa oportunidade, invadiram o paraíso, derrotaram Indra e os Devas em uma guerra e ocuparam o paraíso. Indra perdeu seu reino e todo seu poder para os Assuras, e os Devas perderam sua imortalidade e seu valor.
Vários anos se passaram. O mestre de Indra, Brihaspati pensou num caminho para acabar com os problemas de Indra. Então ele foi juntamente com os Devas falar com Brahma, que os levou até Vishnu, de acordo com os desejos dos Devas. Então Vishnu disse: "Não tenham medo, eu lhes mostrarei uma maneira, o mar de leite precisa ser agitado. É certamente uma tarefa muito difícil, então façam amizade com os Assuras, e peçam sua ajuda. Usem a montanha Mandara como poste, e Vasuki, o rei das serpentes como corda. Eu irei ajudar na hora certa. Quando o oceano é agitado, o Amrita emerge das profundezas, bebam ele e sejam imortais, vocês ganharam força e poderão derrotar os Assuras. Quando o mar for agitado, Lakshmi que havia desaparecido, reaparecerá e derramará sua graça sobre vós".
Brihaspati foi muito inteligente. Ele foi ter com os Assuras, e com astucidade conseguiu fazer amizade com os mesmos. Então ele pediu que os ajudassem no Batimento do mar de Leite. Os Assuras aceitaram, porque secretamente queriam o Amrita para eles. Depois de conseguirem a ajuda dos Assuras, eles começaram a fazer oferendas ao Oceno de leite. Os Devas e os Assuras ofereçeram toda sorte de ervas e plantas para o Oceano. Todos se juntaram para realizar a tarefa de adquirir o Monte Mandara. Eles alcançaram a planície onde o majestoso monte estava posto. Depois de grande trabalho de cavar, conseguiram desarraigar o monte da terra. Eles então tentaram carregar a montanha Mandara para o oceano, mas o peso da montanha era demais para eles, muitos morreram e muitos se machucaram. Pouco tempo depois Vishnu chegou e com um olhar ressucitou todos os mortos e curou todos os feridos. Então ele mandou Garuda carregar o monte mandara para o oceano. Garuda carregou o monte Mandara nas suas costas até a beira-mar, então o imergiu no oceano de leite. Ele amarrou Vasuki o rei das cobras como corda no monte. Os Assuras e os Devas ficaram cada um com uma ponta da serpente, então começaram a bater no oceano. O batimento continuou por um longo tempo sem que nada emergisse dele, até que o monte começava a deslizar para o fundo do oceano. Os Devas e os Assuras não poderiam continuar com o batimento sem o monte mandara. Até que eles foram abençoados com a Misericórdia de Vishnu. Vishnu, escutou o choro deles e veio logo ao resgate. Então ele tomou a forma de Kurma, seu Avatar com forma de tartaruga, colocou o monte nas costas e o levou de volta à superfície. Os Devas e os Assuras respiraram aliviados, pois agora poderiam continuar com o batimento do oceano. O Batimento do oceano de leite continuou com vigor. Então surgiu do fundo do oceano uma nuvem de fumaça que sufocava os Devas e os Assuras. Então eles começaram a clamar por socorro, pois estavam sem saber o motivo do sufocamento, até que descobriram que o Oceano tinha expelido o "Kalakuta", um veneno mortal. Todos estavam amedrontados diante da ferocidade do veneno. Os Devas oraram fervorosamente por Shiva e esperaram que ele poderia vir para ajudá-los, pois era uma substância que corroía tudo que tocava, e Shiva era o mais resistente dos Deuses. Shiva escutando o clamor dos Devas, rapidamente veio ao local, então, como foi pedido pelos Devas, Shiva concordou em beber o veneno. Shiva reteu o veneno em sua garganta, e salvou os Devas da destruição. O veneno era muito poderoso, tanto que fez com que a garganta de Shiva ficasse azul, por isso até hoje ele é chamado de "Neel-Kantha", que significa "aquele que tem a garganta azul". Depois que o veneno foi consumido por Shiva, os Devas e os Assuras continuaram mais uma vez com o Batimento do Oceano de leite. Pasado algum tempo com o batimento do oceano, os Presentes Celestiais tomaram forma, o batimento trouxe à tona vários tesouros perdidos:
Sura (deus do vinho); Chandra (a lua); Apsaras (ninfas celestiais); Kaustabha (uma jóia preciosa para o corpo de Vishnu); Uchchaihshravas (o cavalo divino); Parijata (a árvore dos desejos); Kamadhenu (a vaca sagrada); Dhanvantari (o médico dos deuses) Airavata (o elefante de quatro trombas) Panchajanya (concha sagrada de Vishnu) Sharanga (o arco invencível).
Continuando com o batimento, no meio das ondas do oceano de leite, uma deusa angelical apareceu, ela estava sentada em cima de um lótus desbarochado com um colar de flores de lótus no pescoço e segurando um lótus na mão. Sua aparição foi a mais atraente de todas. Em sua face havia um sorriso brilhante, era a própria Lakshmi!
Os sábios começaram a entoar cânticos em honra de Lakshmi, enquanto as apsaras dançavam. Os elefantes esguichavam água sagrada nela, ela adquiriu o nome de Gajalakshmi. O rei do oceano apareceu em sua forma natural e revelou que Lakshmi era sua filha. O rei presenteou Lakshmi com jóias e roupas, dando à ela uma guirlanda de flores de lótus. Quando todos os Devas olhavam surpresos, Lakshmi colocou a guirlanda no pescoço de Vishnu e, a partir daí, começou a habitar seu coração. Quando Lakshmi olhou para Indra ele logo adquiriu vigor e um brilho extraordinário.
Os Devas e os Assuras continuaram a bater no oceano, até que finalmente Dhanvantari emergiu do mar. Dhanvantari é o médico dos Devas. Ele carrega um pote sagrado nas mãos, esse pote continha o Amrita, néctar que garante imortalidade a quem bebesse. Quando os Assuras viram o que tinha acontecido, correram e tomaram o pote das mãos de Dhanvantari! Aqui começa a luta entre os Assuras e os Devas. Vishnu que via tudo, resolveu ajudar os Devas. Ele se disfarçou de Mohini. Mohini emergiu do oceano com beleza e graça. Ela chegou para os Assuras e perguntou:
"Porque vocês estão lutando?"
Eles responderam:
"Nós lutamos porque queremos o Amrita!"
Mohini sorrindo disse:
"Não briguem pelo Amrita! Se vocês aceitarem, eu mesmo sirvo ele pra vocês! Façam duas filas, uma de Devas e outra de Assuras!"
Os Assuras encantados aceitaram a proposta, assim como os Devas. Mohini, com seus truques, serviu veneno aos Assuras e Amrita aos Devas. Os Assuras encantados nem se tocaram do truque que havia sido usado. Os Devas beberam o Amrita e ganharam imortalidade, então começaram uma guerra com os Assuras, os quais foram derrotados facilmente.