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01/09/2010

A esposa guerreira


Em uma tribo, havia muito tempo, viviam uma mulher e seu marido. O pai da mulher era o chefe, e seu marido era um guerreiro chamado Falcão Azul.
Um dia, Falcão Azul partiu numa expedição de guerra com seu melhor amigo, Falcão Vermelho. Quando estavam a caminho, Falcão Vermelho disse: – Você está deixando sua mulher sozinha. Aposto como ela vai dormir com outro homem hoje à noite.
Falcão Azul balançou a cabeça, e disse: – Minha esposa é fiel a mim e eu confio nela.
Falcão Vermelho, que não era casado, riu e disse: – Aposto como posso voltar e dormir com sua mulher hoje à noite.
Falcão Azul ficou indignado: – Você está enganado.
Falcão Vermelho disse: – Aposto tudo o que eu tenho como consigo dormir com sua esposa hoje à noite.
Relutando Falcão Azul concordou com a aposta, e os dois empenharam seus cavalos, armas e roupas, além de todas as suas posses, nesta aposta.
Falcão Vermelho voltou e rodeou a esposa de Falcão Azul o dia inteiro, sorrindo para ela, mas ela o ignorou. Ele pensou: – Ela é mesmo fiel a Falcão Azul. Desesperado porque ia perder a aposta, foi procurar ajuda de uma mulher mais velha e explicou-lhe a aposta e prometeu pagar lhe generosamente por sua ajuda. Você, disse à velha, só precisa descobrir como é a esposa de Falcâo Azul sem roupas. Se eu ficar sabendo a aparência dela poderei dizer que dormi com ela.A mulher concordou e foi até a tenda da esposa de Falcão Azul. Aproximou-se com cara de cansada e abatida e falou se a moça poderia ajudá-la. A moça ficou com pena da velha e lhe disse para entrar e descansar.
Obrigada, disse a velha. Estou longe de casa e não tenho aonde passar esta noite. A moça logo lhe disse que poderia passar a noite com ela.
Quando veio a noite, ela ofereceu à velha peles macias e cobertas. A velha fingiu que dormia, mas ficou olhando com atenção quando a esposa se despiu para dormir. Ela escovou um tufo de cabelos dourados que crescia em seu abdomen, trançou-os e enrolou em torno da cintura por cinco vezes. A velha viu também que ela tinha uma marca de nascença nas costas.
Na manhã seguinte, a velha agradeceu e depois correu até onde estava Falcão Vermelho para lhe contar o que tinha visto. Este riu deliciado e cavalgou até onde se encontrava Falcão Azul e disse: – Ganhei a aposta! Na noite passada dormi com sua esposa.
Falcão Azul recusou-se a acreditar, mas Falcão Vermelho descreveu a trança de cabelos dourados e a marca de nascença e ele não pode mais duvidar.
Agora, disse Falcão Vermelho, você tem que me dar o que prometeu. O outro não disse nenhuma palavra, deu-lhe tudo o que possuia.
A esposa não entendia o que se passava e perguntou lhe o que estava fazendo. Ele ficou em silêncio, saiu da tenda, e com peles de animais fez um baú onde colocou utensílios, dinheiro e alimentos. Depois disse à mulher que iria fazer uma viagem pelo rio e queria que ela viesse com ele. Ele lhe pediu que vestisse o que tinha de mais belo e depois entrasse no baú. Quando ela fez o que ele pedira, ele amarrou o grande pacote, encaminhou-se para o rio e jogou-o na água.
Depois, voltou sozinho para a aldeia, e quando os vizinhos perguntaram onde estava sua esposa ele recusou-se a responder. Após alguns dias, o chefe ficou preocupado com a filha e perguntou a Falcão Azul onde ela estava. Como este continuasse calado, o chefe ordenou que um buraco fosse cavado até o inferno e jogou Falcão Azul nele.
Enquanto isso, a esposa flutuava rio abaixo dentro do baú. Um homem que estava pescando viu aquele grande embrulho, puxou-o para a margem e o desamarrou, descobrindo assim,a esposa que saiu apavorada. Ela pediu ao homem que trocassem de roupa, e ele concordou, assim ela ficou vestida de homem e então, dirigiu-se a uma aldeia das redondezas.
Uma expedição de guerra estava se preparando para partir, e a moça uniu-se ao grupo. Os jovens guerreiros comentavam entre eles de como o desconhecido tinha rosto de mulher. Um deles resolveu fazer amizade com ela para tirar a dúvida e descobrir mesmo se ela era mulher.
Naquela noite, quando o grupo acampou, ela armou sua tenda longe dos outros. Disse que era Xamã e explicou que era preciso proteger o seu poder para o ataque que viria. Mostrou aos homens a pedra sagrada de águia branca e disse que sua cura vinha do sol. Quando todos se recolheram para dormir, um guerreiro veio até ela e pediu-lhe licença para dormir na sua tenda. Ela recusou, mas ele tanto insistiu que ela deixou e, assim deitaram em lados opostos da tenda.
No meio da noite, o jovem chegou até ela e quis tocá-la, mas ela estava de guarda . O que está fazendo?, ela perguntou e ele desistiu.
Na noite seguinte, outro jovem pediu para dormir na sua tenda e também tentou tocá-la, mas ela estava acordada e frustou a tentativa do rapaz.Na última noite , a expedição aproximou-se do território inimigo, e eles instalaram suas tendas. Ela disse aos homens que permanecessem dentro das tendas, enquanto ela usava seu poder de cura. Ela pegou um pacote de feitiçaria e fez o feitiço, e, instantaneamente, todos os guerreiros inimigos morreram. Ela deu um grito de guerra e acordou a todos que saíram atordoados de suas tendas, pensando que estavam sofrendo um ataque.
Matei o inimigo, ela declarou. Vou sair agora para tomar seus escalpos e armas. Saltou no lombo do seu cavalo, foi até o acampamento do inimigo e voltou com seus troféus. Os homens ficaram estupefactos. Pensaram que ela só podia ser um homem para agir assim matando os inimigos sozinha. O grupo retornou para sua aldeia e os jovens cantaram em homenagem ao valor da guerreira . O chefe da tribo quis oferecer-lhe uma festa, mas ela não aceitou.
- Estou voltando para minha tribo e desejo chegar depressa. O chefe ofereceu escolta, mas ela só pediu um cavalo e ele deu-lhe o melhor que havia. Ela começou a viagem de regresso e, a caminho de casa, ainda disfarçada de homem, encontrou-se com um grupo de sua própria tribo. Quais são as novidades, ela perguntou. Eles lhe contaram a história de Falcão Vermelho com Falcão Azul, e acrescentaram que Falcão Vermelho tinha visto os cabelos dourados no seu ventre e a marca de nascença dela.Disseram que Falcão Azul tinha matado a esposa infiel e que o pai dela, o chefe jogara Falcão Azul num buraco. Ela entendeu tudo.
Ela voltou à aldeia e mostrou todos os escalpos e as armas que conquistara. Então despiu suas roupas de guerra e revelou-se a todos. Contou que Falcão Azul a trancara num baú e jogado rio abaixo, porque pensava que ela havia sido infiel, mas ele foi enganado , ela declarou.
Explicou que Falcão Vermelho e a velha deviam ter sido cúmplices na trama contra ela, então ordenou que Falcão Azul fosse libertado do poço. Ele estava pálido e muito magro, mas quando viu a esposa correu para os seus braços.
Ela dirigiu-se aos membros de sua tribo, e disse: – Agora devemos punir Falcão Vermelho e a velha. Pediu que eles fossem trazidos à sua presença e, para puni-los colocou-os amarrados na carruagem com cavalos selvagens para que fossem arrastados até morrer.
Toda a tribo fez uma festa para celebrar o retorno da valente esposa de Falcão Azul e, daí em diante eles viveram muito felizes.