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01/09/2010

São flores



Estava uma flor bordada num saco de guardanapo a olhar para uma flor pintada numa jarra de porcelana. E vice-versa.
A flor bordada queria meter conversa com a flor pintada. E vice-versa.
Entretanto, a flor bordada pensava: ""Sou mais bonita do que ela."" E vice-versa.
Até que a flor bordada resolveu dizer precisamente o contrário do que pensava:
- Nunca vi flor mais bonita do que tu.
A flor da jarra retorquiu, no mesmo tom:
- Tu, sim, és a mais bonita. Uma perfeita imitação.
Neste ponto, a conversa estragou-se.
- Imitação? - estranhou a flor do saco de guardanapo. - Imitação de quê?
- Imitação de uma flor verdadeira - respondeu a flor pintada na jarra.
- Ora essa! Eu sou uma flor incomparável, uma flor bordada, verdadeiramente bordada com toda a verdade da arte.
Agora, enfim, estava a dizer o que pensava. Não lhe ficou atrás a outra flor:
- Verdadeira obra de arte sou eu. Não há flor pintada mais autêntica, pode crer.
Argumentaram, discutiram, zangaram-se. Perderam a elegância do trato. Passaram a dizer mais do que pensavam:
- Você é uma reles imitação - dizia a flor pintada.
- E você é uma falsificação barata - dizia a flor bordada.
Nisto, mãos femininas vieram colocar uma flor na jarra, até então vazia.
- Qual é o tema da discussão? - quis saber a recém-vinda, debruçada da jarra.
Puseram-na a par da disputa e logo a nova flor, que era dotada de um caule esguio, folhagem vaporosa e pétalas gentis, rodopiou na jarra de porcelana, para dizer, num risinho de superioridade:
- Não sejam ridículas e olhem para mim. Haverá flor mais encantadora e mais verdadeira do que eu?
As duas outras calaram-se. Afinal, a flor de folhas frágeis, que qualquer corrente de ar agitava, a flor de longa haste, mergulhada na jarra, é que tinha razão.

Aqui para nós e em segredo, diremos que também não tinha razão nenhuma. Pois se ela era apenas uma simples flor de papel...