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02/07/2009

Miragaia



CANTIGA PRIMEIRA

Noite escura tão formosa,
Linda noite sem luar,
As tuas estrelas de oiro
Quem nas poderá contar!

Quantas folhas há no bosque,
Areias quantas no mar?
Em tantas letras se escreve
O que Deus mandou guardar.

Mas guai do homem que se fia
Nessas letras decifrar!
Que a ler no livro de Deus
Nem anjo pode atinar.

Bem ledo está Dom Ramiro
Com sua dama a folgar;
Um perro bruxo judio
Foi causa de ele a roubar.

Disse-lhe que pelos astros
Bem lhe podia afirmar
Que Zara, a flor da beleza,
Lhe devia de tocar.

E o rei veio de cilada
De além do Doiro passar,
E furtou a linda moira,
A irmã de Alboazar.

A Milhor, que é terra sua
E está na beira do mar,
Se acolheu com sua dama...
Do mais não sabe cuidar.

Chora a triste da rainha,
Não se pode consolar;
Deixá-la por essa moira,
Deixá-la com tal desar!

E a noite é escura, cerrada,
Noite negra sem luar...
Ela, sozinha ao balcão,
Assim se estava a queixar:

- «Rei Ramiro, rei Ramiro,
Rei de muito mau pesar,
Em que te errei de alma ou corpo,
Que fiz para tal penar?

«Diz que é formosa essa moira,
Que te soube enfeitiçar...
Mas tu dizias-me dantes
Que eu era bela sem par.

«Que é maça, na flor da vida...
Eu, se ainda bem sei contar,
Há três que tinha vinte anos,
Fi-los depois de casar.

«Diz que tem os olhos pretos,
Destes que sabem mandar...
Os meus são azuis,coitados!
Não sabem senão chorar

«Zara, que é flor, lhe chamam,
A mim. Gaia... Que acertar!
Eu fiquei sem alegria,
Ela a flor não torna a achar.

«Oh! quem podera ser homem,
Vestir armas, cavalgar,
Que eu me fora já direita
A esse moiro Alboazar

Palavras não eram ditas,
Os olhos foi a abaixar,
Muitos V1dtos acercados
Ao palácio viu estar

- Peronela, Peronela,
Criada. do meu mandar,
Que vultos serão aqueles
Que por ali vejo andar?»

Peronela não responde;
Que havia de ela falar?
Ricas peitas de oiro e jóias
A tinham feito calar.

A rainha que se erguia
Por sua gente a bradar,
Sete moiros cavaleiros
A foram logo cercar;

Soltam pregas de um turbante,
A boca lhe vão tapar;
Três a tomaram nos braços...
Nem mais um ai pode dar.

Criados da sua casa
Nenhum veio a seu chamar;
Ou peitados ou cativos
Não na podem resgatar.

São sete os moiros que entraram
Sete os estão a aguardar;
Não falam nem uns nem outros
E prestes a cavalgar!

Só um, que de arção a toma,
Parece aos outros mandar...
Juntos, juntos, certos, certos,
Galopa a bom galopar!

Toda a noite, toda a noite
Vão correndo sem cessar,
Pelos montes trote largo,
Por vales a desfilar.

Nos ribeiros - peito na água,
Chape, chape, a vadear!
Nas defesas dos valados
Up! salto - e a galgar!

Vai o dia alvorecendo,
Estão à beira do mar,
Que rio é este tão fundo
Que nele vem desaguar?

A boca já tinha livre,
Mas não acerta a falar
A pasmada da rainha...
Cuida ainda de sonhar!

- «Rio Doiro, rio Doiro,
Rio de mau navegar,
Dize-me, essas tuas águas
Adonde as foste buscar;

«Dir-te-ei a pérola fina
Aonde eu a fui roubar.
Ribeiras correm ao rio,
O rio corre a la mar.

«Quem me roubou minha jóia,
Sua jóia lhe fui roubar...»
O moiro que assim cantava,
Gaia que o estava a mirar...

Quanto o mais mirares, Gaia,
Mais formoso o hás-de achar.
- «Que de barcos que ali vêm!»

- «Barcos que nos vêm buscar.»
- «Que lindo castelo aquele!»
- «É o do moiro Alboazar.


CANTIGA SEGUNDA

Rei Ramiro, rei Ramiro
Rei de muito mau pesar,
Ruins fadas te fadaram,
Má sina te foram dar.

Do que tens não fazer conta,
O que não tens cobiçar!...
Zara, a flor dos teus cuidados,
Já te não dá que pensar.

A rainha que era tua,
Que não soubeste guardar,
Agora morto de zelos
Do moiro a queres cobrar.

Oh! que barcos são aqueles
Doiro acima a navegar?
A noite escura cerrada,
E ele mansinho a remar!

Coseram-se com a terra,
Lá se foram encostar;
Entre os ramos dos salgueiros,
Mal se podem divisar.

Um homem saltou na praia:
Onde irá naquele andar?
Leva bordão e esclavina,
Nas contas vai a rezar.

Inda a névoa tolda o rio,
O sol já vem a rasgar,
Pela encosta do castelo
Vai um romeiro a cantar:

- «Santiago de Galiza,
Longe fica o vosso altar:
Peregrino que lá chegue
Não sabe se há-de voltar.»

Na encosta do castelo
Uma fonte está a manar;
Donzela que está na fonte
Pôs-se o romeiro a escutar.

A donzela está na fonte,
A jarra cheia a deitar:
- «Bendito sejais, romeiro
E o vosso doce cantar!

«Por estas terras de moiros
É maravilha de azar,
Ouvir cantigas tão santas,
Cantigas do meu criar.

«Sete padres as cantavam
À roda de um bento altar;
Outros sete respondiam
No coro do salmear.

«Entre véspera e completas,
E os sinos a repicar.
Ai triste da minha vida
Que os não oiço já tocar!

«E as rezas destes moiros
Ao demo as quisera eu dar.»
Ouvireis ora o romeiro
Resposta que lhe foi dar:

- «Deus vos mantenha, donzela,
E o vosso cortês falar:
Por estas terra de moiros
Quem tal soubera de achar!

«Por vossa tenção, donzela,
Uma reza hei-de rezar
Aqui ao pé desta fonte,
Que não posso mais andar.»

«Oh! que fresca está a fonte,
Oh! que sede de matar!
Que Deus vos salve, donzela,
Se aqui me deixais sentar.»

- «Sente-se o bom do romeiro,
Assente-se a descansar.
Fresca é a fonte, doce a água,
Tem virtude singular:

«Doutra não bebe a rainha
Que aqui ma manda buscar
Por manhãzinha bem cedo,
Antes de o sol aquentar.»

- «Doce água deve de ser,
De virtude singular:
Daí-me vós uma vez dela,
Que me quero consolar.»

«Beba o peregrino, beba
Por esta fonte real,
Cântara de prata virgem,
Tem mais valor que oiro tal.»

- «Dona Gaia que diria,
Que faria Alboazar
Se visse o pobre romeiro
Beber da fonte real?...

- «Inda era noite fechada
Meu senhor foi a caçar:
Maus javardos o detenham,
Que é bem ruim de aturar!

«Minha senhora, coitada,
Essa não tem que falar:
Quem já teve fontes de oiro
Prata não sabe zelar.»

- «Pois um recado, donzela,
Agora lhe heis-de levar;
Que o romeiro cristão
Lhe deseja de falar.»

«Da parte de um que é já morto,
Que morreu por seu pesar,
Que à hora de sua morte
Este anel lhe quis mandar.»

Tirou o anel do dedo
E na jarra o foi deitar:
- Quando ela beber da água
No anel há-de atentar.»

Foi se dali a donzela,
Ia morta por falar...
- «Anda cá, ó Peronela,
Criada de mau mandar.

«Tua ama morrendo à sede
E tu na fonte a folgar?»
- «Folgar não folguei, senhora,
Mas deixei-me adormentar.»

«Que a moira vida que eu levo
Já não na posso aturar.
Ai terra da minha terra,
Ai Milhor da beira-mar!

Aquela sim que era vida,
Aquilo que era folgar!
E em santo temor de Deus:
Não aqui neste pecar!»

- «Cal-te, cal-te, Peronela,
Não me queiras atentar;
Que eu a viver entre moiros
Me não vim por meu gostar.

Mas já tenho perdoado
A quem lá me foi roubar;
Que antes escrava contente,
Do que rainha a chorar.

«Forte cristandade aquela,
Bom era aquele reinar!
Viver só, desamparada,
Ver a moira em meu lugar!...»

Lembrava-lhe a sua ofensa,
Está-lhe o sangue a queimar:
Na água fria da fonte
A sede quis apagar.

A fonte de prata virgem
À boca foi a levar,
As ricas pedras do anel
No fundo viu a brilhar.

- «Jesus seja co’a minha alma!
Feitiços me querem dar...
O fogo a arder dentro n’água,
E ela fria de nevar!»

«Senhora, co’ esses feitiços
Me tomara eu embruxar!
Foi um bendito romeiro
Que à fonte fui encontrar,

«Que aí deitou esse anel
Para prova singular
De um recado que vos trouxe,
Com que muito heis-de folgar.»

- «Venha já esse romeiro
Que lhe quero já falar:
Embaixador deve ser
Quem traz presente real.»

CANTIGA TERCEIRA

«Por Deus vos digo, romeiro,
Que vos queirais levantar;
Minhas mãos não são relíquias,
Basta de tanto beijar!»

O romeiro não se erguia,
As mãos não lhe quer largar;
Os beijos uns sobre os outros,
Que era um nunca acabar.

Ia a enfadar-se a rainha,
Viu que entrava a soluçar,
E as lágrimas, quatro a quatro,
Nas mãos sentia rolar:

- «Que tem o bom do romeiro,
Que lhe dá tanto pesar?
Diga-me las suas penas
Se lhas posso aliviar.»

Minhas penas não são minhas,
Que aos mortos morre o penar;
Mas a vida que eu perdi
Em vós podia encontrar.

Minhas penas não são minhas,
Senão vossas, mal pesar!
Que uma rainha cristã
Feita moira vim achar...»

- «Romeiro, não tomeis cuita
Por quem se não quer cuidar:
Do que foi já me não lembro,
O que sou não me é desar.

«Deus terá dó da minha alma,
Que meu não foi o pecar;
E a esse traidor Ramiro
As contas lhe há-de tomar.»

- «Pois não espereis, senhora,
Por Deus, que pode tardar:
Dom Ramiro aqui o tendes,
Mandai-o já castigar.»

Em pé está Dom Ramiro,
Já não há que disfarçar:
Aquelas barbas tão brancas
Cairam de um empuxar.

O bordão e a esclavina
À terra foram parar;
Não há ver mais gentilezas
De menino e de trajar.

Quem viu olhos como aqueles
Com que o ela está a mirar!
Quem passou já transes d’alma
Como ela está a passar?

Um tremor que não é medo,
Um sorriso de enfiar,
Vergonha que não é pejo,
Faces que ardem sem corar...

Tudo isso tem no semblante,
Tudo lhe está a assomar
Como ondas que vão e vêm
Na travessia do mar.

A vingança é o prazer do homem,
Da mulher é o seu manjar:
Assim perdoa ele e vive,
Ela não - que era acabar.

Vingar-se foi o primeiro
E o derradeiro pensar
Que entre tantos pensamentos,
Em Gaia estão a pular:

Logo depois a vaidade,
O gosto de triunfar
Num coração que foi seu,
Que seu lhe torna a voltar.

E o rei moiro estava longe
C'os seus no monte a caçar,
Ela só naquela torre...
Prudência e dissimular!

Abre a boca a um sorriso
Doce e triste - de matar!
Tempera a chama dos olhos,
Abafa-a por mais queimar.

Pôs na voz aquele encanto
Que, ou minta ou não, é fatal;
E com o inferno no seio,
Fala o céu no seu falar.

Já os amargos queixumes
Se embrandecem no chorar,
E em sua própria justiça
Com arte finge afrouxar.

Protesta a boca a verdade:
- «Que não há-de perdoar...»
Mas a verdade dos lábios
Os olhos querem negar.

De joelhos Dom Ramiro
Ali se estava a humilhar,
Suplica, roga, promete...
Ela parece hesitar.

Senão quando, uma buzina,
Se ouviu ao longe tocar...
A rainha mal podia
O seu prazer disfarçar:

- «Escondei-vos, Dom Ramiro,
Que é chegado Alboazar,
Depressa neste aposento...
Ou já me vereis matar.»

Mal a chave deu três voltas,
Na manga a foi resguardar;
Mal tirou a mão da cota,
Que o rei moiro vinha a entrar:

- «Tristes novas, minha Gaia,
Novas de muito pesar!
Primeira vez em três anos
Que me sucede este azar!...

Toquei a minha buzina
Às portas, antes de entrar,
E não correste às ameias
Para me ver e saudar!

Muito mal fizeste, amiga,
Em tão mal me costumar;
Não sei agora o que fazes
Em me querer emendar...»

No coração da rainha
Batalhas se estão a dar
Os mais estranhos afectos
Que nunca se hão-de encontrar.

O que foi, o que é agora...
E a ambição de reinar...
O amor que tem ao moiro,
E o gosto de se vingar...

Venceu amor e vingança.
Deviam de triunfar,
Que era em peito de mulher
Que a batalha se foi dar.

- «Novas tenho e grandes novas,
Amigo para vos dar:
Tomai esta chave e abride,
Vereis se são de pesar.»

Com que ânsia ele abriu a porta
Vista que foi encontrar!...
Palavras que ali disseram,
Não nas saberei contar:

Que foi um bramir de ventos,
Um bater de águas no mar,
Um confundir céu e terra,
Querer-se o mundo acabar...

Vereis por fim o rei moiro
Que sentença veio a dar:
- «Perdeste a honra, cristão;
Vida, quero-ta deixar.

«De uma vez, que me roubaste,
Muito bem me fiz pagar:
Desta basta-me a vergonha
Para de ti me vingar.»

Sentia-se el-rei Ramiro
Do despeito devorar;
Com ar contrito e afligido
Assim lhe foi a falar:

- Grandes foram meus pecados,
Poderoso Alboazar;
E tais que a mercê da vida
De ti não posso aceitar.

«Eu não vim a teu castelo
Senão só por me entregar,
Para receber a morte
Que tu me quiseste dar.

Que assim me foi ordenado
Para minha alma salvar
Por um santo confessor
A quem me fui confessar.

«E mais me disse e mandou,
E assim t’o quero rogar,
Que, pois foi pública a ofensa,
Público seja o penar.

«Que ai nessa praça d’armas
Tua gente faças juntar;
Ai diante de todos
A vida quero acabar.

Tangendo nesta buzina,
Tangendo at÷ rebentar;
Que digam os que isto virem,
E lhes fique de alembrar.

Grande foi o seu pecado,
No mundo andou a soar;
Mas a sua penitência
Mais alto som veio a dar. »

Quizera-lhe o bom moiro
Por força ali perdoar;
Mas se a perra da rainha
Jurou de à morte o levar!...

Veis na praça do castelo,
Toda a moirama a ajuntar;
Em p÷, no meio da turba,
Reboava o buzinar.

Tange que lhe tangerás,
Toca rijo a bom tocar;
Por muitas léguas a roda
Reboar o buzinar.

Se o ouvirão nas galés
Que deixou à beira-mar?
Decerto ouviram, que um grito
Tremendo se ouve soar...

CANTIGA QUARTA

«Santiago!... Cerra, cerra!
Santiago, e a matar!»
Abertas estão as portas
Da torre de par em par.

Nem atabias nos muros,
Nem roldas para as velar...
Os moiros despercebidos
Sentem-se logo apertar.

De um tropel de leonezes
Já portas a dentro a entrar.
Deixa a buzina Ramiro,
Mão à espada foi lançar.

E de um só golpe fendente,
Sem mais por nem mais tirar,
Parte a cabeça at÷ aos peitos
Ao rei moiro Alboazar...

Já tudo ÷ morto ou cativo,
Já o castelo está a queimar;
Às gal÷s com seu despojo
Se foram logo a embarcar.

- «Voga, rema! d'além Doiro
À pressa, à pressa a passar,
Que já oiço ali na praia
Cavalos a relinchar.

«Bandeiras são de Leão
Que lá vejo tremular
Voga, voga, que além Doiro
É terra nossa!... A remar!

Daqui é moirama cerrada
Até Coimbra e Tomar.
Voga, rema, e d'além Doiro!
Daquém não há que fiar.»

À popa vai Dom Ramiro
De sua galé real
Leva a rainha à direita,
Como quem a quer honrar.

Ela, muda, os olhos baixos
Leva na água... sem olhar,
E como quem de outras vistas
Se quer só desafrontar.

Ou Dom Ramiro fingia
Ou não vem nisso a atentar;
Já vão a meia corrente,
Sem um para o outro falar.

Ainda arde, inda fumega
O alcáçar de Alboazar;
Gaia alevantou os olhos,
Triste se pôs a mirar;

As lágrimas, uma e uma
Lhe estavam a desfiar,
Ao longo, longo das faces
Correm... sem ela as chorar.

Olhou el-rei para Gaia,
Não se pode mais calar;
Cuidava o bom do marido
Que era remorso e pesar.

Do mau termo atraiçoado
Que com ele fora usar
Quando o entregou ao moiro
Tão-só para se vingar.

Com a voz enternecida
Assim lhe foi a falar:
- «Que tens Gaia... minha Gaia?
Ora pois! não mais chorar,

«Que o feito é feito...» - «E bem feito!»
Tornou-lhe ela a soluçar,
Rompendo agora nuns prantos
Que parecia estalar;

«É bem feito, rei Ramiro!
Valente acção de pasmar!
"À lei de bom cavaleiro,
Para de um rei se contar!

A falsa fé o mataste...
Quem a vida te quis dar!
A traição... que de outro modo,
Não és homem para tal.

Mataste o mais belo moiro
Mais gentil, mais para amar
Que entre moiros e cristãos
Nunca mais não terá par.

«Perguntas-me porque choro!...
Traidor rei, que hei-de eu chorar?
Que o não tenho nos meus braços,
Que a teu poder vim parar.

«Perguntas-me o que miro?
Traidor rei, que hei-de eu miara?
As torres daquele alcáçar,
Que ainda estão a fumegar.

«Se eu fui ali tão ditosa,
Se ali soube o que era amar,
Se ali me fica alma e vida...
Traidor rei, que hei-de eu mirar!»

- «Pois mira, Gaia!» E, dizendo,
Da espada foi arrancar:
Mira, Gaia, que esses olhos
Não terão mais que mirar.»

Foi-lhe a cabeça de um talho;
E com o pé, sem olhar,
Borda fora empuxa o corpo...
O Doiro que os leve ao mar.

Do estranho caso inda agora
Memória está a durar;
Gaia é o nome do castelo
Que ali Gaia fez queimar.

E dalém Doiro, essa praia
Onde o barco ia a aproar
Quando bradou - Mira, Gaia!»
O rei que a vai degolar,

Ainda hoje está dizendo
Na tradição popular,
Que o nome tem - Miragaia
Daquele fatal mirar.


Romanceiro, Almeida Garrett