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27/08/2010

Parvati



Certo dia, enquanto Parvati ou Gauri tomava banho, Shiva, inesperadamente, apareceu. Acanhada, Parvati interrompeu seu banho e correu para o interior de seu quarto. Suas atendentes Jaya e Vijaya explicaram-lhe que, lamentavelmente, não puderam impedir a entrada de Shiva no recinto, porque elas eram também criadas dele.
Então sugeriram a Parvati que ela tivesse as suas próprias atendentes, da mesma forma como Shiva tinha os seus shivaganas. Tendo seu próprio assistente, a entrada de Shiva poderia ter sido impedida. Se Shiva é rei, Parvati é rainha. Ouvindo isso, Parvati reuniu as impurezas de sua pele e com essa substância fez uma escultura masculina, dando-lhe vida. Um belo e bochechudo rapaz surgiu. Abençoando-o, colocou-o no posto de vigia do lado de fora de sua porta.
Quando Shiva retornou e tentou entrar, o garoto o impediu, dizendo-lhe que sem a permissão de Parvati ninguém poderia entrar. Os atendentes de Shiva não puderam vencer o garoto, que a todos paralisou. Muitos dos shivaganas, outra vez, tentaram entrar e todos foram repelidos.
Com o rebuliço lá fora, Parvati veio saber o que estava sucedendo e encorajou o garoto a manter a sua guarda. Shiva não queria cair no descrédito. Brahma veio e solicitou ao garoto que deixasse a passagem livre, mas seu pedido não foi atendido. Ao pensar que Brahma fosse mais um de seus atendentes – shivaganas –, o garoto puxou-lhe a barba e seus bigodes. Então Brahma, ao explicar que ele era um brâmane e que não poderia lutar, foi-se embora.
Não havia ninguém que pudesse enfrentar o garoto, com exceção de Kaartikeya. Kaartikeya, ou Skanda, o poderoso deus da guerra, o segundo filho de Shiva e Parvati, com seis faces, representa a personificação da perfeição. Foi criado por todos os deuses para liderar o céu e destruir os demônios. O mais masculino e feroz de todos os deuses, detém todos os poderes espirituais, particularmente o da sabedoria. Em uma de suas mãos, segura uma lança – sakti –, a qual simboliza a destruição das tendências negativas humanas. Com a outra, ele sempre abençoa os devotos. Seu veículo é o pavão, capaz de destruir as serpentes peçonhentas, que representam o ego e os maus desejos. Vishnu sentiu que sua espinha fora quebrada pelo golpe do garoto. Houve um forte grito de angústia. A intervenção e a ajuda de Shiva foram solicitadas, que, então, ergueu o tridente – trishula – e o apontou em direção ao pescoço do garoto, cuja cabeça foi, velozmente, arrancada e trazida para as suas mãos.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, Parvati teve um violento acesso de fúria. No alto de sua raiva, vários poderes emergiram: karaati, kubjuka, kanza, lambashirsha, dentre outros. Até mesmo Shiva ficou aterrorizado. Ele simplesmente permaneceu de pé, olhando, sem nada fazer. Os anjos e deuses apareceram para Parvati. Sábios e videntes, liderados pelo grande sábio Narada, foram também prestar-lhe reverências. O sábio Rajarajeshwari insistiu que o garoto fosse trazido de volta à vida. Parvati disse a Shiva que somente retiraria seus assistentes – shakteya ganas – após tal feio.

Shiva desistiu e enviou alguns de seus ganas – assistentes – para o norte e lhes ordenou que trouxessem a cabeça de qualquer animal jovem que combinasse com a estrutura física do corpo do garoto que encontrassem pelo caminho e, enquanto isso, o seu tronco seria cuidadosamente banhado, perfumado e envolto por ornamentos. Tão logo os ganas retornaram, trazendo consigo uma cabeça de um jovem elefante, essa foi rapidamente colocada ao tronco do garoto. Juntos, anjos e deuses oraram para que esse votasse à vida. Shiva atendeu às preces. Brilhando com uma intensa luz vermelha, o garoto revive, forte e belo com a cabeça de elefante. Parvati ficou feliz pelo fato de seu garoto ter sido trazido de volta à vida, apesar de sua cabeça de elefante. Shiva o proclamou como sendo seu filho, o Senhor dos Shivaganas e o removedor dos obstáculos. A partir daí, o garoto passou a ser adorado, reverenciado e exaltado e chamado por todos, carinhosamente, de Ganesha ou Ganapati. Parvati, feliz, acalmou-se, e o mundo prosseguiu o seu destino.

Por tal razão, na Índia, ainda hoje, é muito comum ver diante das portas das casas e lojas, estátuas ou figuras do Senhor Ganesha.